#38: Como, logo escrevo
Em uma semana, um divórcio aguardado; Deli & Diner, versão brasileira; o menu de Janaína; quando em Paris, utensílios de cozinha; eu fui, amei e recomendo
Eu não sei fazer bolo
Começo esse texto com uma afirmação: meus bolos simplesmente não dão certo. O melhor? Eu já sabia muito bem disso e, a sequência de aulas repletas de bolos na Le Cordon Bleu me fez confirmar tal fato. Não escrevo isso para ganhar palminhas do tipo: “Imagina, o seu bolo é bom”. Mas, com a comprovação visual de que todos os bolos dos alunos crescem muito mais do que os meus no forno - e não é um problema de incorporar as claras em neve, acreditem, sou delicada e não mato a aeração. Eu prefiro dizer que é problema de mão. Mas me esforço e sigo à risca todos os passos, como a aluna dedicada e, proporcionalmente, cansada que sou.
Seja fazendo a Sacher, que é um bolo austríaco, ou a Alhambra, uma versão do bolo anterior criada na sede da minha escola francesa, me deparei com tantos desafios nas últimas semanas. Um teste bem longo de paciência, tipo uma prova de matemática em 2011. Sofrida.
É uma sensação de definhar na aula: não gosto de manusear chocolates e ambas receitas levam ganache e glaçagem. Fico tensa quando coloco no forno porque já sei que pode dar muito errado. Fico mais tensa quando tiro do forno e vejo que até a cor do meu bolo é meio diferente das demais. Aí, fico ainda pior quando lembro que tenho que escrever, com uma caneta montada em papel manteiga, os nomes dos bolos, o que até rendeu, nos últimos 5 min de aula, algumas risadas sozinha, do tipo agachada atrás da bancada.
Minto se não dizer que aconteceu evolução: na primeira vez, o bolo saiu embatumado; na segunda, vazou metade da massa para fora; na penúltima, destaco que saiu na altura perfeita, 3 cm, o que me livrou do trabalho de cortar a tampa com a faca de pão; na última, assumo que foi a melhor tentativa entre todas, ultrapassou os 3 cm e tive que aparar. Por isso e muita coisa, gradeço muito a paciência e os ensinamentos da chef Edilaine Góis, a minha atual professora de patisserie da LCB.
Vejo amigas minhas fazendo bolos esplêndidos: Tina e seus bolos altíssimos, principalmente para agradar às suas sobrinhas, com muito brigadeiro; Maria Ferraz, sempre assando muitos bolos lá de Avignon, com cara de terem saído do Pinterest. A minha avó e a minha tia, também. Bolos ótimos e descomplicados. Não invejo, pelo contrário, aplaudo e até penso que quero comer tais bolos frequentemente. Elas têm a mão para bolo.
A coisa que mais valorizo no meu processo de amadurecimento é entender quando a situação em que me meti, naturalmente e sem ninguém me avisar, não é para mim. Claro que, se eu quisesse muito ser boa em bolos, eu conseguiria. Mas isso não é para mim e não está nas minhas prioridades. Talvez um dia, alguém me peça para fazer um - como a minha irmã pediu a genoise no começo do ano - e, por amor, eu faça.
Lembrei de uma história de uma bailarina do meu antigo ballet, que frequentei por tantos anos: não tinha porte de bailarina, não tinha alongamento, nem sequer pé de bailarina. Com muito esforço, sem a “sorte” de nascer para aquilo, tornou-se solista e acumulava papéis principais - mas todo mundo, todo mundo mesmo, falava da história de superação, ressaltando os defeitos dela. Principalmente as professoras. Seria muito mais justo exaltá-la pelos seus feitos, sem relembrar das mil dificuldades, mas eu achava o máximo ela ter persistido tanto.
Por todas as reclamações, pretendo me divorciar dos bolos na sexta, dia em que acontece a minha prova final, que será fazer a Alhambra. Até lá, o que me resta é treinar um pouco a grafia, porque acredito que só isso dá para controlar. De resto, é rezar para o bolo crescer até 3 cm e não embatumar. Também orar para não me perder nas 3 horas corridas, sem pausas para reclamações. Nem sequer um chorinho silencioso. Torçam por mim, para sair de forma triunfal dessa relação caótica.
Em tempo: meu aniversário se aproxima e está bem claro que irei comprar um bolo, um PIX que faço com um prazer inenarrável. Aliás, um dos problemas dos meus 30 anos foi não ter um bolo e nem ter soprado velhinhas. Um corriqueiro por aqui é o de lemon curd e framboesa, da Ju Bianchi, amiga à frente da Conta Gotas. Mas esse ano estou aberta a novas coisas e talvez, muitos bolos - mas não 25, que nem vi no IG de uma influenciadora, o que só me restou vergonha. Nada mais cafona que exageros. Por isso, me indiquem os boleiros e boleiras preferidos de vocês?
Boa leitura,
Giulianna
Diner e Deli, RJ e SP
Ando com uma vontade enorme de ir para Nova York mas, enquanto a viagem não acontece, seguem dois lugares que mais se assemelham aos diners e delis nova-iorquinos.
Dainer (Botafogo, Rio de Janeiro)
AK Deli(Vila Madalena, São Paulo)
Novidade da Brasileira
Nos últimos meses, me aprofundei super na trajetória da Janaina Torres, após entrevistá-la para a capa da Versatille - leia a matéria, em sua versão on-line, AQUI.
Além de se preparar para um novo negócio, que já roda em eventos esporádicos, agora, ela criou um menu degustação, inédito, em seu Bar da Dona Onça. Para a minha felicidade, provei uma sequência de pratos que acalentam o estomago: salgadinhos populares das mesas brasileiras, pratos servidos no meio da mesa para compartilhar, pratos empratados delicadamente e, ao fim, uma sequência de docinhos de festa. Não tem como não gostar. O que mais amei, no entanto, é a “roupagem” que envolve a experiência, com cada tempo de uma forma. Peças feitas por artesãos brasileiros e até mesmo uma onça, que esconde variedade de feijões. Para brasileiro algum colocar defeito.
Ah, o menu custa R$ 190 - reservas são recomendadas, apesar de não obrigatórias.
Compras de cozinha em Paris
O mundo está olhando para a cidade sede das Olimpíadas, a que mais amo no mundo. Isso me fez lembrar que nunca indiquei por aqui, lojas de utensílios de cozinha bem legais. Deixarei os links do Google Maps em cada um dos nomes, para facilitar.
Segue a minha lista:
Ultra antiga, famosa e repleta de utensílios profissionais maravilhosos. A compra exerce um pouco de paciência - nada tem preço, eles ficam listados em pranchetas espalhadas pela loja, com códigos nos produtos, sendo necessário localizar e consultar a todo momento. Ninguém é muito simpático, mas vale a pena!
Meu cunhado me indicou essa, que tem uma localização ótima, bem no Westfield Forum des Halles. A estação Chatelet fica embaixo dele, é gigantesca, central e reúne muitas linhas de metrô e trens. Não tem a variedade de itens profissionais como a anterior, mas muita coisa boa, até utensílios de pasta, que são difíceis de encontrar na cidade…
Loja de facas, original de Londres, que tem um arsenal maravilhoso de... Facas. É claro. Recomendo muito!
Outra loja repleta de coisas profissionais. Particularmente, achei a seleção de patisserie ultra vasta. Não comprei nada, mas é uma boa recomendação, bem próxima da E. DEHILLERIN.
Novidade boa no Paraíso
Há umas semanas fui jantar no Josefa no Paraíso, restaurante das chefs Tainá Maia e Bel Crozera. No maior clima de casa de avó, cheia de louças e toalhinhas das mais delicadas e vintages, o restaurante me ganhou antes dos pratos chegarem. Não tenho o hábito de ir ao bairro, mas talvez tal abertura me faça mudar de ideia. Provei uma entrada excelente, os abacates fritos com uma salada bem fresca; bolovo terra e mar, de camarão e porco; steak tartare com fritas fininhas, crocantes por fora e macias por dentro, uma proeza; e, por fim, uma massa bem delicada de lagostins. Para completar, bebi meu drinque preferido: Bamboo, que por lá, custa menos de R$ 40, o que é raro em São Paulo. Muito bem executado e servido numa taça linda. Voltarei!
Você pode não ser boa de bolo mas arrasa na escrita .
O bolo pode até não sair perfeito, mas que é uma delícia, é!